Costuma criar aplicações em lote em Java? Pois, saiba que além de ter uma especificação para tratar essas aplicações, há um framework ótimo para criar e padronizar o código dos mesmos, o Spring Batch! Nesse artigo vou colocar umas pequenas dicas que podem servir para outras pessoas assim como me ajudaram muito.

É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.

– Aristóteles

Primeira dica: Spring Batch pode ou não rodar com o Spring Boot

O Spring Boot facilita a configuração de projetos Spring e muitas vezes é fácil ter impressão que todos os projetos precisam rodar com ele, mas isso é falso. Apesar de particularmente recomendar o uso do Spring Boot, o Spring Batch é um framework independente, construído para ajudar na construção de aplicações batch mais robustas, sejam elas web ou não.

Para alcançar o objetivo a ferramenta disponibiliza um modelo de funcionamento que visa padronizar o código implementado para a aplicação. Nada melhor do que a documentação para explicar: Spring Batch Introduction

Segunda dica: iniciar uma aplicação Spring Batch pela linha de comando

O Spring Batch não foi construído para trabalhar como um gerenciador de execução e sim para ser chamado por um, no ambiente que trabalho, o cliente utiliza o programa Control-M para agendar e executar processamentos, sendo assim a aplicação deve ser executada a partir de uma linha de comando. Existem várias abordagens para conseguir isso no Spring Batch, aqui vou exemplificar a que mais achei simples.

  1. configure o projeto com o Spring Boot;
  2. na classe de execução (anotada com @SpringBootApplication) implemente a interface CommandLineRunner;
  3. em application.properties defina a propriedade spring.batch.job.enabled=false (vai impedir que todos os jobs sejam executados automaticamente);
  4. implemente o código de execução do job no método run() .

Exemplo:

public static void main(String[] args) {
    System.exit(SpringApplication.exit(SpringApplication.run(SpringBatchDicasApplication.class, args)));
}

@Override
public void run(String... args) throws Exception {
    log.info("Executando.");
    Job job = appContext.getBean("importUserJob", Job.class);
    JobParameters params =
        new JobParametersBuilder().addString("importUserJob", String.valueOf(System.currentTimeMillis())).toJobParameters();
    jobLauncher.run(job, params);
}

Terceira dica: separando a fonte de dados do JobRepository do resto da aplicação

Quando a classe de configuração é anotada com @EnableBatchProcessing o Spring Boot já configura um objeto JobRepository com o datasource configurado pelo usuário, mas e quando não quiser persistir as informações de execução na base principal? As vezes a informação da execução não vai ser utilizada, ou em casos em que a execução é controlada externamente não é necessário persistir, nesses casos é possível definir outro datasource para o JobRepository.

Em muitos exemplos que achei é utilizado o MapJobRepositoryFactoryBean, mas é um erro! Essa classe é para usar em ambientes de desenvolvimento, pois não é thread safe e pode apresentar problemas em ambiente produtivo, uma melhor alternativa é utilizar um banco em memória (como H2, HSQL ou Derby) que lida melhor com transação e threads.

Para configurar bancos diferentes:

  1. criar um bean de BatchConfigurer na classe de configuração;
  2. criar um bean para o datasource do banco que se deseja para o JobRepository e anotá-lo com @BatchDataSource;
  3. como não há mais um datasource padrão, é necessário criar um bean para DataSourceProperties (responsável por obter os dados de configuração no application.properties), o bean primario com o datasource principal e outro do tipo JdbcTemplate.

Trecho do código:

  @Bean
  @Primary
  @ConfigurationProperties("spring.datasource")
  public DataSourceProperties dataSourceProperties() {
    return new DataSourceProperties();
  }

  @Bean
  @Primary
  @ConfigurationProperties("spring.datasource.configuration")
  public HikariDataSource dataSource(DataSourceProperties properties) {
    return properties.initializeDataSourceBuilder().type(HikariDataSource.class).build();
  }

  @Bean
  public JdbcTemplate jdbcTemplate(@Autowired DataSource dataSource) {
    return new JdbcTemplate(dataSource);
  }
  /**
   * Datasource para o repositório do batch
   */
  @Bean
  @BatchDataSource
  DataSource batchDataSource() {
    return new EmbeddedDatabaseBuilder().addScript("classpath:org/springframework/batch/core/schema-drop-hsqldb.sql")
      .addScript("classpath:org/springframework/batch/core/schema-hsqldb.sql").setType(EmbeddedDatabaseType.HSQL).build();
  }

  @Bean
  public BatchConfigurer batchConfigurer() {
    return new DefaultBatchConfigurer() {
      @Override
      public PlatformTransactionManager getTransactionManager() {
        return new ResourcelessTransactionManager();
      }

      @Override
      protected JobRepository createJobRepository() throws Exception {
        JobRepositoryFactoryBean factory = new JobRepositoryFactoryBean();
        factory.setDataSource(batchDataSource());
        factory.setTransactionManager(getTransactionManager());
        factory.afterPropertiesSet();
        return factory.getObject();
      }
    };
  }

Quarta dica: tratando os erros com exit codes

Ao executar uma aplicação em lote via agendadores, alguns utilizam o exit code da execução para alarmes de erros. No Spring Batch é fácil configurar uma manipulador que traduz os erros para códigos de erro, segue um exemplo simples:

@Bean
ExitCodeExceptionMapper exitCodeToexceptionMapper(){
   return exception -> 1;
}

O trecho implementa a interface funcional ExitCodeExceptionMapper o qual recebe um Throwable e retorna o código equivalente.

Quinta dica: estrutura do projeto

Após ler sobre a arquitetura do Spring Batch, e alguns projetos criados, o conceito de package by feature foi o que se encaixou melhor na maior parte dos projetos batch que construí, não é intenção desse artigo entrar no detalhe, mas posso sugerir o artigo https://phauer.com/2020/package-by-feature/ e o http://www.javapractices.com/topic/TopicAction.do?Id=205 sobre o assunto.

Por ser muito flexível, há muitas maneiras de utilizar o modelo do Spring Batch, tento sempre deixar o ItemReader com a responsabilidade de buscar os dados, o Processor irá transformar, executar regras ou tratar os dados e o ItemWriter fica responsável por persitir o resultado.

Finalizando

Espero que esse artigo seja encarado como o que é, uma série de dicas que não são a bala de prata, mas que podem se encaixar em algum problema que algum leitor precise resolver. Sugestões e feedbacks serão bem-vindos!

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Fontes